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​GIANNI PATUZZI  

1959-74: a arte como trabalho coletivo

 

Em 1959 Gianni Patuzzi se transferiu para Turin como diretor artístico do estúdio gráfico e publicitário Editoriale Landó e naquela cidade diversificou os contatos com artistas, arquitetos e técnicos, iniciando uma fase de experimentação com todos os materiais. Em Turin reencontrou um antigo colega do liceu artístico, Nerone Ceccarelli, com o qual, em 1962, fundou o grupo NP2 (Nerone e Patuzzi).

 

O debate intelectual no norte da Itália era então permeado pela crítica materialista aos grandes temas da cultura e da arte hegemônicos no entre-guerras, como o neoclassicismo e o patriotismo fascistas, aos quais contrapunham-se a reprodutibilidade da obra de arte propugnada por Walter Benjamin e a ação do artista entendido como intelectual orgânico gramsciano. Naquele contexto, ser contemporâneo significava inserir a operação estética na tecnologia da informação e da cultura de massa e enfrentar, de forma nova, problemas cruciais tais quais a autoria, o contato com o público e com o mercado consumidor.

 

A resposta imediata a esta “crise da arte” elaborada por Patuzzi e outros artistas de sua geração era direcionada no sentido de produzir obras impessoais e, para isso, formar grupos nos quais cada indivíduo contribuisse com experiências diversificadas, mas operasse em direção a um mesmo horizonte propositivo. Esse era o ideal que embasava a montagem do grupo NP2, inaugurando uma colaboração intensa de mais de uma década entre os dois artistas, voltados para produzir obras com autoria coletiva.

 

Patuzzi e Nerone montam em um grande galpão na periferia de Turin uma verdadeira oficina artística contemporânea onde utilizavam todos os recursos da moderna tecnologia - acido, maçarico, solda elétrica – e materiais que poderiam ter tratamento artístico a nível industrial e serem inseridos na arquitetura moderna - concreto, aço, mármore e zinco, entre outros. No NP2, “o atelier torna-se laboratório e oficina, e o artista não se limita mais a colaborar com a indústria (segundo o modelo clássico do empenho tecnológico e cívico do entreguerras), mas enfrenta ele próprio, em primeira pessoa, com a equipe de seus colaboradores, os problemas de uma produção (...) quantificada. A qualidade de sua obra não depende apenas do rigor do enquadramento e do vigor de sua inventividade, mas também da quantidade e extensão de sua presença no tecido ambiental e urbanístico privado e público, e em última análise pela massa das pessoas envolvidas na fruição” (Lucio Cabutti).

 

O desafio, além da autoria coletiva, era o de projetar e multiplicar a experiência artística no campo ilimitado da vida quotidiana, democratizando a fruição da obra de arte, em espaços alternativos aos dos museus e galerias. É por isso que o NP2 nasceu como um “grupo aberto onde o artista colabora com o arquiteto ou com o engenheiro ou com o público da obra (ou a maior parte das vezes com todos ao mesmo tempo). E, quase naturalmente, enquanto o artista sofre algumas de suas limitações devido ao respeito pela funcionalidade, o projetista vive da poesia do artista, de modo que, no final do projeto, os papeis perdem as suas peculiares identidades” (Toni Ferrari).

 

Desta colaboração entre arte e arquitetura nasceram as propostas  para revestimentos de exteriores e interiores: portas, divisórias para habitações privadas, painéis decorativos, entre outras. Esta produção foi integrada, muitas vezes a grandes projetos, como os do arquiteto Marcel Breuer em França, de Roger Vanhevel e Meekels na Bélgica ou para os aposentos da residência imperial da princesa Adhraf Pahlavi, irmã do Xá da Pérsia. A intervenção no espaço arquiotetônico também se traduziu em murais para espaços coletivos, como bancos, aeroportos, hotéis e igrejas. Mas, indubitavelmente, o renome internacional do grupo NP2 deveu-se às grandes obras de arte para o espaço público, como o grande mural em zinco gravado instalado no Salão do Hemiciclo do Parlamento Europeu (Luxemburgo, 1973) e o monumento de 21 metros de altura em aço cortem para o Palácio da Justíça (Saluzzo, 1971). 

 

Em 1969, Patuzzi e Nerone receberam o Niveau du Bronze na Exposição Internacional de Batimat, pelas pesquisas de novos tratamentos artísticos em grande escala no mármore e no concreto, criando máquinas industriais para realizá-los. Dois anos depois receberam o Prestige du Monde pelo Comitê Mundial da Arte em Paris por suas esculturas.

 

Ao mesmo tempo em que obtinha renome pelas esculturas de grande porte, o NP2 avançava também no sentido de produzir obras em série que poderiam ser adquiridas diretamente pelo público. É o projeto Multipli, em cujas raízes ecoavam as experiências de Moholy Nagy na Bauhaus nos anos vinte, a célebre polêmica dos Rotoreliefs de Marcel Duchamps (1935), os Originaux Multiples expostos por Fautrier (1950) mas, sobretudo, a primeira edição, em Colônia, do MAT (Multiplicação de Arte Transformável), com obras de Burf, Duchamps e Tinguelly entre outros, todas em cem exemplares numerados e assinados.

 

Nas palavras de Piero Ceccarelli, com os Multipli Patuzzi havia alcançado uma “(...) produtividade de alto potencial de ruptura e renovação (...). De fato o valor da obra de arte não reside em sua unicidade e raridade de exemplar físico, mas na originalidade e logo unicidade de proposta expressiva. E esta será conservada (...) se no procedimento de execução não intervêm fatores que alterem a estrutura formativa. Não se tratará então de reproduções mais ou menos fiéis de um modelo, mas de um único processo formativo que da origem a uma série de objetos (...) nos quais a quantidade não determina diferenças expressivas ou qualitativas”.

 

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